Corpo território: Construção e liberdade

 

O corpo é meio, mediação e fim, sendo mote das contradições da existência e palco dos campos de batalha entre os eus e os mundos possíveis e impossíveis. Indissociável da experiência pensante, o corpo dá vazão ao desejo, aos sentidos e significados. A universidade, tanto em seu papel formativo quanto em suas intenções investigativas, está em profunda relação com o território do corpo. É o corpo que atravessa e transpassa as barreiras físicas, extravasa o desejo da pesquisa, ecoa os anseios de conhecimento e mudança, fazendo fluir a cultura, o ensino, a pesquisa e a extensão como corpos construindo organogramas do saber. 

Em um movimento de olhar para o outro enquanto olhamos para nós mesmos, a experiência do corpo é tanto individual quanto coletiva. Se por um lado todos experienciamos ciclos e fluxos da vida com particularidades milimetricamente desenhadas por e para cada um de nós, por outro, vivemos em um constante diálogo de corpos e organismos conjuntos, montados das experiências histórico-sociais e culturais.

De forma expressiva, o corpo, que já é alvo de questionamentos e teorias desde que o ser humano percebe-se integrando sua terra, é o canal que viabiliza conexões com o sagrado, o profano, a natureza, o mundo, o universo, a capacidade de criação e a de destruição. 

E assim como pode ser mecanismo de mediação, fluidez e fruição, o corpo também elabora-se como território em disputa. As relações de poder determinam as batalhas travadas nas trincheiras da carne, delegando pertencimento àqueles que atendem aos requisitos de dominação e supremacia e relegando a maioria submetida às violências do corpo ao não-lugar. Os movimentos sociais, como o MNU (Movimento Negro Unificado), as organizações e auto-organizações de retomadas de povos originários, o Movimento de Mulheres, o movimento LGBTQIAPN+, a luta sindicalista, o MST (Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra) e outros, tentam, em meio a inúmeras batalhas, travar a guerra da heterogeneidade dos corpos e existências. 

No Cariri Cearense, brotam as flores do oásis do sertão. Compartilhando saberes com quem já domina o corpo cultural e as relações histórico-sociais da “terra do Padim”, a Universidade Pública, os Institutos Federais, os Pontos de Cultura, os Centros Culturais e os grupos auto organizados interiorizam sonhos de liberdade de corpos abençoados sob a Chapada do Araripe e sobre o território Kariri. São territórios de compartilhamento e luta como o GRUNEC (Grupo de Valorização Negra do Cariri), a Frente de Mulheres do Cariri, a  Casa da Diversidade Cristiane Lima, a Comunidade Indígena de Poço Dantas e o Assentamento 10 de Abril que unem corpo e mente em um constante avançar das existências.

Os caminhos do corpo não somente tensionam nossos caminhos individuais, mas refletem os rumos históricos, as normas sociais e as escolhas culturais responsáveis por nossa experiência coletiva e perspectivas de sociedade. Nos últimos anos, a discussão sobre corpos políticos extravasou o espaço acadêmico e parece passar a incomodar cada vez mais. Significando e ressignificando os lugares, entrelugares e não-lugares do corpo, pensá-lo também é elaborar sobre a cultura em que acreditamos e refletir sobre as que vivemos. Com isso em mente, o Festival UFCA de Culturas 2023 traz como tema “Corpo território: Construção e liberdade”, convidando a comunidade caririense a ‘botar o corpo pra jogo’ nessa discussão. Vem com a gente?

Para mais informações, consulte o edital.